Diário Teatral da Coluna – Semana 21 – 20/03/2023 a 26/03/2023

Diário Teatral da Coluna – Semana 21 – 20/03/2023 a 26/03/2023

Agora que a encenação parece ter achado, enfim, seu eixo, a criação de material tem acelerado bruscamente. As personagens eleitas para a jornada ganham consistência a cada dia de ensaio, camadas de complexidade e profundidade nas suas relações são desveladas, revelando as contradições e contextos enfrentados pela Coluna Prestes nas cenas. A coisa está toda turbulenta, porque temos de fazer tudo ao mesmo tempo: improvisar e debater as cenas, converte-las em dramaturgia, sonhar e erguer a encenação, tudo junto e urgente. Com dois meses e duas semanas para a estreia, os passos do trabalho se intensificam radicalmente.

Seguindo a trilha das cenas que estruturam a peça, realizamos as seguintes jornadas criativas:

·         Sobre mapas e maxixes. Depois de um potreada, Onça discute com Garcia: ambos fizeram um mapa indicando os próximos passos da Coluna Prestes. Apesar do mapa da Onça ser evidentemente melhor, Garcia se recusa a aceitar, por conta do seu machismo. Prestes chega para mediar a situação e avaliar os mapas. Enquanto avalia, Ângelo e Garcia perguntam para Onça sobre seu passado como dançarina de maxixe. Onça ensina os dois a dançarem maxixe, um com o outro, intensificando a relação dos soldados. Prestes retorna, adotando o mapa de Onça como estratégia para os próximos passos.

·         No campo de batalha entre moribundos e feridos. Firmino recolhe armas e os nomes dos mortos, Enfermeira Hermínia cuida dos vivos, fazendo curativos e convocando os padioleiros. Enquanto fazem seu trabalho, Hermínia resolve socorrer um soldado inimigo, o que gera uma grande desavença com Firmino.

·         Julgamento do preso condenado injustamente. Em uma cena de expediente épico, três possibilidades de futuro são mostradas para o público, a partir da libertação de um preso negro pelos revolucionários da Coluna Prestes, condenado injustamente por um juiz bêbado. Cada um dos futuros expressa uma das faces do sistema carcerário do Brasil, de ontem e hoje, e as possibilidades de retorno ao convívio social dos egressos desse sistema massacrante. No último caminho, o recém-liberto junta-se a Marcha da Coluna.

·         Enfermeira Hermínia descansa depois de muito trabalho com os feridos. Recebe a visita do Comandante Prestes. O inquere sobre a falta de ferimentos do comandante. Prestes demonstra que é um líder que marcha junto de seus soldados, terminando por convencer Hermínia dos ideias da Coluna.

·         Em torno de uma fogueira, Prestes recebe o Sargento Garcia e Santa Rosa, que se tornou uma exímia combatente. Está maravilhado com a empresa Mate Laranjeira, que o acolheu na sua sede com pompa, declarando seu apoio a revolução. Garcia e Rosa, por sua vez, visitaram os pequenos ranchos arrendados onde moram as famílias que trabalham para Mate Laranjeira, em regime de servidão, açoitados por capatazes. O encontro transforma Prestes, que resolve requisitar uma quantia astronômica da empresa Mate Laranjeira. A cena joga epicamente com cada situação, com as personagens se transformando nas figuras, reproduzindo cada encontro.

·         A traição do Padre Aristides e o massacre de Piancó. Um padre-coronel faz uma proposta de armistício para os soldados da Coluna, que estão divididos se acreditam ou não. Firmino e Rosa estão desconfiados, não querem aceitar o acordo. Já Garcia, com apoio de Ângelo, acredita que devem seguir em frente, confiar, afinal, é um Padre. Essa posição ganha o debate, com Garcia indo a frente, portando uma bandeira branca. Era uma emboscada, Garcia termina baleado. Isso dispara um sentimento de revolta e ódio nos integrantes da Coluna Prestes, que avançam para Piancó, cometendo toda sorte de barbaridades. Vemos a esperança fraquejar diante do horror. Por fim, Garcia morre nos braços de Ângelo, no único beijo que os dois amantes nunca admitidos conseguem partilhar.

·         A primeira aula de alfabetização de Ângelo, ministrada pelo Sargento Garcia. Ângelo não quer saber de ler e escrever, quer saber de aprender a atirar. Termina convencido pela poesia, no momento em que Garcia lê um trecho de Romeu e Julieta para seu rebelde aprendiz. Uma relação surge entre os dois, junto do desejo de alfabetização que começa a surgir em Ângelo.

·         O parto de Santa Rosa. Em meio a uma situação de combate, Rosa entra em processo de parto, assistida pela Enfermeira Hermínia, enquanto Firmino faz a guarda da situação. A situação dramática é rompida por um momento épico de narrativa, em que as personagens, diante da esperança de uma vida que surge, narram seus sonhos e vislumbres de futuro.

·         Despedida de Hermínia e Rosa, depois de toda a marcha da Coluna. Rosa está disposta a seguir sonhando e construindo a revolução, vislumbra um caminho de lutas para seu filho; já Hermínia encontrou enfim a paz, vai ficar por lá mesmo, conseguiu um ranchinho para viver com Firmino. O destino de cada uma está selado. Firmino ainda aparece no fim, para presentear o filho de Rosa com seu fuzil, que nunca errou um tiro. Ele espera que o menino nunca precise utilizar.

·         Retomada da cena do motim dos soldados.

 

Na oficina de Coro Cênico, que está entrando em sua reta final, de onde sairão as 12 pessoas escolhidas para compor o Coro da Coluna na encenação, seguimos explorando as entradas desse universo na peça. Retomamos a cena da Travessia do Rio, utilizando uma rede como suporte para o teatro-dança; refinamos o Coro Portando Imagem do Horror da Guerra, incluindo uma paisagem sonora na movimentação; experimentamos uma nova dramaturgia para uma cena do Coro, em que Luiz Carlos Prestes decide seguir com a jornada da Coluna, rachando o Estado Maior da Revolução entre desistentes e convictos com a luta.

A encenação começa a ganhar seu desenho, com uma listagem geral das cenas e entradas do coro organizadas em 4 movimentos: Chegança; Glória; Crise; Despedida. O espaço cênico, feito de elementos cinéticos, é uma representação poética do Brasil Profundo, cortado pelo acampamento da Marcha da Esperança. Os figurinos e adereços ganham primeiro plano, constituindo os lugares e situações com a intensidade das presenças numerosas das 26 pessoas em cena. Toda essa criação vai se intensificar agora, junto com a consolidação da dramaturgia.

 

Seguimos, até a estreia da peça!

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