Diário Teatral da Coluna – Semana 29 – 15/05/2023 a 21/05/2023
O trabalho de condensar, deixar
só o que interessa na encenação, é árduo. Envolve um conjunto de decisões
difíceis que cabem à encenação, que mexem com o elenco na relação com as cenas
e personagens, gerando diferentes tipos de atritos e delicadezas. Mas é um
movimento necessário, de cortar o que precisa ser cortado para que a peça, em
sua totalidade, tenha a maior potência possível.
Estamos nesse momento do nosso
trabalho, com os ensaios tomados por esse esforço de concentrar a peça, fazer
com que perca os momentos que estão puxando a encenação para trás, as cenas
reiterativas, que não acrescentam muito ao conjunto. O resultado é promissor: a
encenação está ganhando muito em agilidade, dinâmica, a dramaturgia entrega só
o que interessa, sem excessos ou sobras. Vamos seguir com esse esforço, até
termos um passadão com a peça já condensada na sua máxima expressividade.
No meio de toda essa loucura aconteceu,
na manhã do sábado dia 20/05/2023, na garra e ousadia desse coro cênico
sensacional, 4 intervenções teatrais por praças de São Paulo. A ação rememorava
a Revolução Paulista de 1924, também conhecida como a Revolução Esquecida,
quando um levante revolucionário toma a cidade.
A Estação da Luz era a base dos
revolucionários. A Praça da República foi palco de intensos tiroteios. O bairro
da Mooca e do Brás foram intensamente bombardeados. Foram nesses territórios
que o Coro da Coluna fez sua intervenção, cantando, dançando, cortando a
cidade, relembrando com sua voz coletiva a memória dos combates e o sonho da
revolução.
Em 5 de julho de 1924, durante 23
dias, a guerra tomou conta das ruas de São Paulo, com tiroteios intensos,
trincheiras de paralelepípedos, tanques e canhões. Aviões lançam bombas nos
bairros operários, seguindo a ordem do governo federal de realizar um
bombardeio terrificante.
A Revolução Paulista tinha como
principal objetivo derrubar o Presidente Artur Bernardes, expoente sanguinário
e autoritário da Primeira República, eleito dentro da dinâmica do café com
leite com seu coronelismo de voto de cabresto. Esse levante militar e civil foi
o primeiro passo de uma escalada de revoltas e rebeliões que, ao se integrar
com os revolucionários do Rio Grande do Sul, formam a Coluna Prestes, marcha
revolucionária que rasgou o Brasil, percorrendo 25.000 quilômetros durante dois
anos e 7 meses.
A intervenção teatral do Coro da
Coluna relembrou tudo isso, feito por um grupo de atores e atrizes
comprometidos com o resgate dessa memória, movida por um sonho de revolução
sempre combativo e atualizado, apontado para o presente. Uma lembrança de como
o teatro pode mover a memória da cidade, preenchê-la de afeto e interesse,
romper por um instante o fluxo intenso do capital e suas brutalidades.
Essas ações foram fruto de uma
trajetória linda, intensa, interessada, potente e generosa do Coro Cênico que
se formou dentro das atividades do projeto “Coluna Prestes: Encruzilhadas da
Marcha da Esperança”, do Coletivo de Galochas, contemplado na 39ª edição da Lei
de Fomento ao Teatro para Cidade de São Paulo.
Minha gratidão por estar ao lado
desse coro incrível nessa jornada criativa e linda, lembrando como o teatro
pode ser intenso e surpreendente.