Diário Teatral da Coluna – Semana 33 – 12/06/2023 a 18/06/2023
Nessa terceira semana de temporada tivemos a alegria de
receber ex-deputada Anna Martins, militante comunista histórica, figura que,
inclusive, homenageamos em uma das canções (sem saber que ela viria assistir
nossa peça)!
Também recebemos ninguém mais ninguém menos que Luis Carlos
Prestes Filho, que viajou do Rio de Janeiro até São Paulo para prestigiar nosso
trabalho! Depois da apresentação combinamos um momento de troca, uma roda de
conversa entre o filho de Prestes e as e os artistas do Coletivo de Galochas,
importante acontecimento do nosso processo. Em sua generosidade, Luis Carlos
Prestes Filho escreveu uma crítica da peça, que pode ser conferida aqui:
https://catetear.com.br/uma_epopeia_nao_merece_an%C3%A1lise_coluna_prestes
Cabe destacar que, no final do texto, Luis Carlos Prestes Filho
conta da uma carta enviada para ele pelo Manoel de Barros, o poeta do Pantanal,
comentando sobre o esforço de adaptar poeticamente a marcha da Coluna Prestes. Fiquei
profundamente tocado lendo a carta de Manoel de Barros, que em muito conversa
com os esforços que enfrentamos para levantar nossa peça, das dificuldades de
tratar de um tema histórico sem deixar que o peso da análise se impusesse a
poética teatral, a fruição intensa que uma marcha revolucionária exige, do
desejo de alcançar uma teatralidade da esperança, capaz de esperançar o coração
do público. Discordando um pouco de Manoel de Barros, tentamos não abandonar a
perspectiva da luta de classes na nossa releitura poética, mas em grande parte,
o desejo do desassombro poético também nos moveu. Transcrevo abaixo a referida
carta:
“Campo Grande (MS) – 14 -7 – 95
Caro amigo Luiz Carlos,
Recebi sua carta vinda de Cuiabá. Obrigado pelas boas palavras. Faço votos que seu trabalho de resgate da Coluna (Prestes) caminhe bem. Só não gostei do seu amigo dizer que somente um historiador marxista poderia dar parecer razoável sobre as trilhas da Coluna (Prestes). Seu amigo não pensa no épico? Na epopeia? Na bravura quase poética da Marcha? O heroísmo não aguenta análise. É um desassombro poético. Vá para o inferno a análise marxista nisso.
A epopeia não merece análise. Merece canto, exaltação, louvação. Tem de ser tratada em linguagem de Homero. Tem que lembrar Ulisses, etc. Seja um cantor do heroísmo em seu trabalho. E não um mero analista. Mesmo porque seu pai quando fez a marcha nem sabia do marxismo. Aproxime-se das inscrições rupestres e dos minadouros humanos. Transmita imagens intrincadas sim. Tente uma epopeia e não uma análise. Tente a recriação de fatos heroicos e grandiosos. O resto não tem perenidade.
Abraço fraterno do Manoel de Barros”