Diário Teatral da Coluna – Semana 11 – 09/01/2023 a 15/01/2023

Diário Teatral da Coluna – Semanas 11 – 09/01/2023 a 15/01/2023

Semana de retomada, momento de produção e reorganização antes da volta dos ensaios práticos. Todo esse processo de montagem é possível porque o Coletivo de Galochas foi contemplado na 39ª edição da Lei de Fomento ao Teatro para Cidade de São Paulo, um edital voltado para grupos e coletivos que realizam um teatro de pesquisa, o que pressupõe uma ampliação dos conhecimentos das e dos artistas envolvidos no processo, que se debruçam decisivamente sobre o tema da peça e sobre a própria linguagem teatral, também fonte de descobertas e investigações. 

Por conta disso, diferentes ações foram elaboradas ao redor do processo de montagem da peça, nomeadamente um ciclo de palestras sobre Teatro Historicista e a Coluna Prestes, que contará com 8 mesas com convidadas e convidados de diferentes Estados do Brasil, atrelado a um Curso Livre de Coro Cênico, a ser realizado durante os meses de fevereiro e março, de onde serão escolhidos 12 teatristas em começo de trajetória para integrarem a montagem da peça. Eventos desse tipo demandam um grande trabalho de produção e organização para acontecerem, ocupando merecidamente grande parte dos nossos esforços nesse retorno dos trabalhos. Felizmente as coisas caminharam bem nessa intensa semana de trabalhos e, ao que tudo indica, os acontecimentos que orbitam nossa sala de ensaio transcorrerão de maneira incrível e significativa, ainda bem.

Além desse amplo trabalho de produção, desempenhei um esforço de resgate e memória da pesquisa realizado até aqui na sala de ensaio, listando todas as cenas experimentais e improvisos significativos que surgiram no processo. É uma lista grande, ainda fragmentada, sem uma síntese significativa entre suas partes, mas com um amplo material bruto para desenvolvimento. Essa é uma das belezas, mas também angústias, da pesquisa teatral: muito do material levantado não é aproveitado, serve de caminho para decantar aquilo que realmente importará para a encenação, produz situações e pontos de vista cênicos para a dramaturgia, que desempenha um esforço crítico de revisão e criação a partir desses disparadores, mas sem apego, chegando muitas vezes em uma peça que leva elementos do que surgiu na sala de ensaio, transformados radicalmente.

No primeiro ensaio prático desse ano, que acontece semana que vem, pretendo apresentar essa listagem do que foi levantado para o elenco envolvido na pesquisa, num esforço de retomada crítica e criativa do que foi erguido até aqui. Ainda temos janeiro e o começo de fevereiro de 2023 para essa investigação cênica mais aberta, experimental, dos elementos e pontos significativos da pesquisa teórica sobre a Coluna Prestes, arriscando formas de encenar esses acontecimentos, transformá-los em teatro. Depois disso, o time de dramaturgia, aliado a encenação, terá de organizar e escrever uma primeira tentativa de peça, momento em que o experimentalismo aberto dá lugar a um experimentalismo apoiado no texto teatral. De qualquer forma, temos ainda diversos ensaios de caráter amplo, radicalmente experimental, que é a última chance de arriscarmos, em improvisos, situações que parecem importantes nesse esforço de um teatro historicista, isso é, uma encenação realizada a partir de um trecho da nossa História, reivindicando a retomada da memória do Brasil, relida a contrapelo por meio do teatro.

Colo abaixo a lista de títulos das cenas desempenhadas ao longo dos ensaios de 2022. Para um leitor ou leitora de fora talvez fique difícil de dimensionar o que foi de fato os improvisos, quem eram suas personagens, situações, ambiências, dinâmicas cênicas e linguagem teatral adotada. Mas serve para dimensionar a quantidade de trabalho que um processo desse tipo gera, com os debates e descobertas que caminham em conjunto. Aí vai:

COLUNA PRESTES MATERIAL LEVANTADO DURANTE OS ENSAIOS DE 2022

[Bibliografia: DC = Diário da Coluna (LIMA); NdGF = Noite das Grandes Fogueiras (MEIRELES)]

 

CENAS IMPROVISADAS

Quadros da Coluna Prestes em marcha:

  • • A cuspida inesperada (DC, p. 451-452)
  • • Encontro de homens instruídos em um Café depois do bombardeio
  • • Negociando o dinheiro virtual da revolução (NdGF, pg. 222, 246, 363, 558, 591) > 1) Coronel que não quer ceder nada; 2) Coronel que recebe ajuda da coluna, mas tem sua própria agenda; 3) Fazendeiro que acredita na revolução, mas não tem condição de auxiliar.
  • • O Soldado convocado pelo tenente para ingressar na Coluna e sua amasiada – 1) Soldado quer ir, mulher quer ficar e fugir da guerra; 2) Mulher quer ir, soldado nervoso quer fugir; 3) Soldado e mulher querem ir com a Coluna, tenente quer proibir soldado de levar mulher grávida, casal se junta contra o tenente para entrar na coluna. 
  • • Conflito do Coronel Prestes e General Miguel Costa na reorganização da Coluna (DC, pg. 149-151)
  • • Prestes e Ítalo, seu ajudante, cavalgando entre encrencas (DC, p. 145-146)
  • • Queima dos documentos dos populares em Carolina/MA (DC, p. 206-207)
  • • Incidente dos carneirinhos das crianças (DC, p. 208-210)
  • • A insurgência dos homens do Sargento Benício no dia de aniversário de Miguel Costa (DC. 210-212)
  • • Os Velhos Pretos Barqueiros e as lendas em torno da coluna (DC, p. 193-195)
  • • Tia Maria ritualiza o corpo do Soldado Mascote (DC. 185; 218)
  • • As figuras populares no Rio de Janeiro na década de 1920 
  • • Revolta dos 18 do Forte
  • • Jovem Tenente em revolta no Clube Militar (NdGF, pg. 703-710)
  • • Uma jornalista recém-contratada começa seu trabalho no jornal “Folha da Noite
  • • Entrevista das Mulheres da Coluna (Onça, Dona Ernestina, Isabel Pisca-pisca, Lamparina)
  • • O Traidor do Fogão
  • • Leitores da Coluna

Quadros da Revolução Paulista de 1924:

  • • Bacharel Feroz chega em São Paulo procurando os revolucionários (DC, p. 32-35)
  • • Catetes, táxis e revoluções – 1) General na Festa do Municipal; 2) Revolucionários tenentes no táxi (NdGF, 40-46)
  • • Um homem-rato invade a cena, logo encontra um espelho: é Doutor Carlos de Campos, Governador que abandonou São Paulo nas mãos dos revolucionários.
  • • Os Fantasmas ao redor da Estação da Luz (dramaturgia experimental)
  • • General e o Paisano (dramaturgia experimental)
  • • Mulher com filho pequeno em casa durante o bombardeio
  • • Nas trincheiras de São Paulo, um soldado governista por acaso entre revolucionários.
  • • Enfermaria Improvisada.
  • • Estado Maior da Revolução.
  • • As Águias e o Bombardeio (Palácio do Catete)
  • • Cozinha Pública
  • • O panfleto da gráfica anarquista clandestina
  • • Retirada de São Paulo. (não fizemos essa)
  • • Os cocheiros em meio ao bombardeio
  • • As bombas no terreiro
  • • Mulheres guerreiras diante da morte
  • Quadros da Revolução do Rio Grande do Sul:
  • • Os milicianos ximangos na bodega
  • • Travessia das Mulheres (cena-coro)
  • • A tomada de Santo Ângelo
  • • O Civil (entrada de um civil em Santo Angelo)
  •  CENAS IMPROVISADAS A FAZER 
  • • A Romaria em Muquem, Goiás (DC, 185).
  • • Encontro entra a Maria Bonita e uma Vivandeira para evitar o conflito entre a Coluna Prestes e o Bando do Lampião.
  • • Fantasmas de Canudo a partir do encontro com a Velha Sobrevivente, no dia em que a Coluna Prestes acampa por lá.
  • • Desenvolver a relação entre o Tenente Professor e o Soldado que aprendeu a ler, utilizando o “Romeu e Julieta” como um paralelo de um amor não admitido que surge entre os dois; o Professor consegue encontrar o livro com o texto “Romeu e Julieta”, para enfim entregar para o soldado poder ler o final; mas encontra com o Soldado em seu leito de morte, depois de ferido em combate – o presente do livro coincide com a morte do Soldado e o único beijo entre os dois. Nesse caso, “Romeu e Julieta” serve de espelho para a história trágica do Tenente e o Soldado.
  • • Coro de Leitores de Jornal, que, num movimento coreografado, apresentam o texto da próxima cena, com letras escritas em cada jornal.
  • • Coro Alegórico dos biomas que a Coluna atravessa; definir uma árvore-símbolo de cada um desses biomas. 
  • • Na Bolívia, nos estertores da Coluna, encontro entre Prestes e um dos soldados que o acompanha desde Santo Ângelo, o primeiro que Prestes ensinou a ler e escrever; o Soldado está para morrer de impaludismo, Prestes acompanha seus últimos momentos; os dois conversam, dessa conversa toda a história da Coluna acontece.

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