Diário Teatral da Coluna – Semana 18 – 27/02/2023 a 05/03/2023

Diário Teatral da Coluna – Semana 18 – 27/02/2023 a 05/03/2023

Nessa semana, o time de dramaturgia intensificou o trabalho de escrita da peça, enquanto o elenco intensificou o trabalho em torno das oficinas de danças populares. Estamos em um momento de turbulência, de caminhada para solidificação do que será, de fato, a encenação. As escolhas desse momento não são fáceis em processos criativos como este que estamos, coletivo e colaborativo, em que cada artista participante é também criador/criadora. O objetivo é que todo mundo que participa desse processo se reconheça na peça, partilhe e se identifique com o lugar de chegada da encenação. E isso não é nada simples de ser feito de fato.

As danças populares seguem como uma aposta para a encenação, embora as entradas e composições a partir desse repertório tenham se transformado muito entre o que era o projeto original e o que a peça está se tornando de fato . Essa é outra constante de criações com esse tipo de dinâmica: os caminhos de concretização da encenação são diversos e ramificados, abrindo trilhas inimagináveis no projeto original. Esse pulsar vivo do trabalho teatral torna tudo fluído, instável, exigindo porosidade criativa constante, coisa não tão simples quando lidamos com uma política pública, como é o caso da Lei de Fomento ao Teatro para a cidade de São Paulo que, por sua natureza de incentivo estatal, precisa de balizas e previsibilidade de realização, apontadas no projeto original. O que empilha demandas: além dos processos criativos, também nessa semana finalizamos o 1º Relatório do Fomento, o que exigiu um esforço imenso, concorrendo com os trabalhos criativos da sala de ensaio, de desenvolvimento da peça.

Para fechar esse balaio, realizamos uma atividade intensa no final de semana, muito importante para nosso projeto, a finalização do Ciclo de Palestras, sempre desenvolvidos em torno de dois eixos: “Teatro e História: procedimentos criativos” e a “Coluna Prestes e o Brasil da década de 1920”. O evento contou com a realização de 4 mesas, no sábado e no domingo, com uma mesa de cada eixo por dia, sempre em parceria com a Biblioteca Mario de Andrade, que acolheu a iniciativa de maneira incrível. 

No debate sobre Teatro e História, recebemos a Companhia Estudo de Cena, grupo de teatro parceiro da cidade de São Paulo, em uma conversa organizada sob o recorte “Encenar a história: um exercício sobre o presente”, e a dramaturga, performer, atriz e jornalista Mônica Santana, sob o recorte “Arquivo e Repertório: processo de criação do texto Uma Leitura dos Búzios”. As conversas, sempre potente, giraram em torno ter na história e na memória a temática central para um processo de criação. Já nas mesas sobre a Coluna Prestes, tivemos a alegre de receber figuras incríveis. No sábado, contamos com a presença da historiadora e pesquisadora Anita Leocádia Prestes, filha de Olga Benário e Luís Carlos Prestes, sob o título “A Coluna Prestes: a história e suas falsificações”. Já no domingo, fechando o ciclo de palestras, recebemos o comunicador Jones Manoel, com o recorte de “Política em Armas: Coluna Prestes, violência e luta de classes na história brasileira”. Foram realizadas análises aprofundadas da marcha da esperança e seus desdobramentos, refletindo sobre as diferentes formas de contar o que foi a Coluna Prestes, constituindo um campo de disputa em torno desse tema, que exige uma tomada de posição diante das suas muitas apropriações.  

Foram encontros instigantes, anunciando um conjunto de forças e continuidades históricas que estão aí, agora, explodindo no tempo presente. A Coluna Prestes relida a contrapelo, angulada como um esforço radical de esperança, um gesto de rebeldia, utopia e coragem, diante de forças imensas, truculentas, gananciosas e desiguais. 

Avante! Seguimos com o trabalho criativo até a criação da peça.

 

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